Foda à século XX



Todas as noites, depois de lavada a louça do jantar, despiam-se no seu apartamentozinho de boneca e deitavam-se como um casal de cobras. Tentou descrever-me numerosas vezes como ela fodia. Por dentro era como uma ostra, uma ostra com dentes macios que o mordiscavam. Às vezes até parecia que estava mesmo dentro do útero dela, tão mole e fofo aquilo era, e os dentes macios iam-lhe mordiscando a gaita e tornando-o delirante. Costumavam deitar-se à maneira de tesoura, a olhar para o tecto. Para evitar vir-se, ele pensava no escritório e nas pequenas preocupações que o atormentavam e lhe davam um nó nos intestinos. Entre orgasmos, pensava noutra pessoa para, quando ela voltava à carga, poder imaginar que se tratava de uma foda novinha em folha, com uma cona novinha em folha. Costumava arranjar as coisas de maneira a poder olhar pela janela, enquanto ia fodendo. Tornara-se de tal modo perito que era capaz de despir uma mulher no boulevard, debaixo da sua janela, e transportá-la para a cama. E não apenas isso: conseguia fazê-la mudar de lugar com a mulher, tudo sem desengatar. Às vezes fodia assim um par de horas e nem sequer se dava ao trabalho de ejacular. Para quê desperdiçar?

podes ler online o Trópico de Capricórnio, de Henry Miller

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